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Felicidades transitórias e Felicidade Duradoura: Compreendendo e cultivando o Sentido da Vida

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Felicidades transitórias e Felicidade Duradoura:
Compreendendo e cultivando o Sentido da Vida

Luz, Câmera, Ação!

Um novo dia, um novo filme, um novo capítulo da novela da vida se inicia, e já estamos correndo atrás de nossos afazeres, dos sonhos de realização, uma vida plena de satisfações.

Ação, ação, ação na busca da felicidade. Mexa-se! Arranje um jeito de realizar seus sonhos! Viva intensamente!

Luz, Câmera, Ação!

Até aqui, aparentemente, não há nada de novo sob a luz do sol. Mas vejamos. Nestas três palavras “luz, câmera, ação”, antes da ação há duas outras: câmera e luz. Porque disso? Para que a câmera possa captar uma ação, é preciso que haja um foco que dirigirá a ação. Mas há uma palavra não dita, porém imprescindível, que é anterior ao foco da câmera de nossa novela existencial: a motivação.

Qual a motivação cuja realização preencheria nosso modelo de felicidade e satisfação? Raramente os seres humanos examinam esta questão vital. Ela é fundamental porque esta motivação determina nossas ações; nossas ações determinam os frutos; e os frutos determinam o senso de felicidade e satisfação que nossa mente experimenta. E é esta relação entre motivação e aquilo que a mente interpreta que determinará a avaliação da mente sobre como construir a felicidade e a satisfação.

As tradições espirituais também têm o propósito de conduzir os seres humanos à realização da felicidade e da satisfação. Mas aqui há um divisor de águas, que as Ciências da Religião, em conjunção com as doutrinas espirituais pode esclarecer: qual o projeto ou modelo de realização levaria o ser humano à felicidade e à satisfação?

Todos os seres não querem sofrer, querem ser felizes. Se queremos ser felizes, então, precisamos nos perguntar: qual é ou quais são as felicidades que buscamos? De acordo com quais felicidades buscamos, estas serão as motivações com as quais empenhamos nossos esforços.

Motivação tem como sinônimo de intenção, palavra que vem do latim in (em, para) tendere (mirar, direcionar, tender), ou seja, para onde tendem nossas ações? E as ações não apenas do corpo, mas da fala e do pensamento. Mas será que os seres humanos estão sendo educados para examinar os conteúdos das motivações/intenções de suas ações do corpo, fala e pensamento?

As intenções, na perspectiva da Psicologia Budista são nomeadas cetana. Na maioria das vezes brotam do inconsciente, sem que nos demos conta do emergir das intenções, que impulsionam as ações. Temos ilusão de que estamos agindo “livremente”. Mas de fato tendemos a ser “agidos” por impulsos inconscientes. Esses impulsos moldam os significados que damos à “felicidade”. Determinando nossos padrões de comportamento. Essas tendências também são condicionadas pelos valores que a sociedade propõe como a “realização da felicidade”.

E quais tendem a ser esses padrões de condicionamentos? Felicidade como obtenção de múltiplos prazeres e confortos: riqueza material, sucesso profissional, status, poder, relações afetivas e sexuais prazerosas, saúde permanente, etc. Em outras palavras: hedonismo. Ligado à uma visão materialista e consumista da vida.

Algum mal nesses conteúdos que a maioria de nós almeja? Em si mesmo, não. A questão é: quanto duram? Quanto nos custam de esforços essa luta por conseguir esses “objetos” de felicidade? Podemos usar essas buscas como suportes para irmos além delas? Sob quais condições?
Foram essas investigações que conduziram Gautama Buddha a buscar o significado de felicidade duradoura. Para isso, saiu do ambiente de conforto e prazer do palácio onde vivia. Ao ver as quatro cenas (um idoso, um doente, um defunto e um asceta em meditação), iniciou treinamentos da mente para buscar a felicidade para além desses sofrimentos.

E porque nossa mente experiencia sofrimento diante do envelhecimento, da doença, da morte, e diante das perdas. do que desejamos? E também da experiência do sofrimento diante do que não desejamos, reagindo com tristeza, depressão, raiva, ódio, melancolia?

É simples: é porque nossas motivações e ações estão condicionadas por uma visão de felicidade que é impermanente (anicca), que conduz repetidamente à insatisfação (dukkha). Como diz um antigo ditado, é como querermos saciar nossa sede bebendo água do mar. Nunca se resolve.

Essa sede (tanhã) está na base da vida condicionada pelas impurezas da cobiça, da aversão (dos pequenos ressentimentos aos ódios violentos). Que por sua vez estão enraizadas na ignorância (avidya) sobre a natureza impermanente das coisas e dos fenômenos.

Ou seja, ficamos prisioneiros de nossas ambições por objetos que acreditamos que nos trarão felicidade, mas são felicidades transitórias, efêmeras, sempre repondo essa sede insaciável em repetidos esforços para reconseguí-los. A prisão da roda da realidade condicionada e efêmera (samsara),

Mas haveria alguma Felicidade que não fôsse efêmera, passageira? Que seja Felicidade duradoura?

Esse é o tema-base que o Buddha, e todos os grandes mestres das múltiplas tradições espirituais buscaram, e realizaram. E como nós podemos buscar e realizar? Com quais métodos cognitivos e práticos?

Este é o tema central de base para os caminhos que orientem
o Sentido da Vida que conduza à Felicidade duradoura.

Arthur Shaker 2023
ESABE – Espaço de Saberes
arthur.shaker@gmail.com

Indicações para leitura

DHAMMACAKKAPAVATTANA SUTTA. Colocando a roda do Dhamma em
movimento. Samyutta Nikaya LVI.11.
https://www.acessoaoinsight.net/sutta/SNLVI.11.php

ELIADE, Mircea. (2001). O sagrado e o profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes.

FRANKL, Victor E. (1996). El Hombre en Busca de Sentido. Editora Herder.

GUÉNON, René. (1993). Os Símbolos da Ciência Sagrada. São Paulo: Ed. Pensamento.

SHAKER, Arthur. (1999). Buddhismo e Christianismo. Esteios e Caminhos. Petrópolis: Vozes.
__ (2003). A travessia buddhista da vida e da morte. Introdução a uma Antropologia Espiritual. Rio de Janeiro: Gryphus.
__ (nov. 2007). O lugar do Homem nas doutrinas tradicionais. Revista UNICLAR, ano IX, no. 1. São Paulo: Faculdades Integradas Claretianas, p. 37-48.

STODDART, William. (1998). Outline of Buddhism. Oakton: The Foundation for Traditional Studies.
YOGAVACARA RAHULA, Bhikkhu. (2006). Superando a Ilusão do Eu. Um Guia de Meditação Vipassana. São Paulo: Edições Casa de Dharma, www.casadedharma.org

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