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Coreoterapia: Terapia com dança

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PREFÁCIO DA 2a EDIÇÃO

Zlatica De Farias (2017)

(In: RENNÓ, E. (2017) Coreoterapia: Terapia com dança – 2.ed.)

Em 1987, ao entrarmos naquele espaço onde havia os lugares dos espelhos… das bolas de diversos tamanhos… dos balões coloridos… dos arcos de vime ou bambolês… dos bastões de madeira… dos elásticos coloridos… e outros mais, iniciávamos um diálogo em grupo sobre os conceitos, teorias, métodos e objetivos da Coreoterapia; assim, como de suas técnicas ou Sessões Padrão.

É importante ressaltar que cada um dos participantes dessas discussões já havia entrado em contato com os fundamentos teóricos da Coreoterapia desenvolvidos até então. Bem como, experimentado as Sessões Padrão durante o curso de formação em Coreoterapia.

Esses “diálogos sobre o corpo-mente” em que, progressivamente, evidenciava-se o lugar do corpo e do movimento do corpo no processo psicoterapêutico, foram adicionando aos fundamentos conceituais da Coreoterapia existentes os conhecimentos teóricos e práticos de cada um dos participantes. Bem como, as pesquisas desenvolvidas pelo grupo. Isto possibilitou o surgimento de alguns materiais que viriam a fazer parte desta segunda edição do “Coreoterapia: Terapia com dança”.

Durante esse período, havíamos retornado de uma viagem à Tchecoslováquia (atuais República Tcheca e Eslováquia) para criarmos o genograma de nossa família de origem materna. Caminhando por aldeias e cidades que fizeram ou ainda faziam arte de nossas raízes históricas. E como as histórias e estórias dos antepassados também se expressavam nos corpos de cada um com quem entrávamos em contato, bem como em cada foto daqueles que não se encontravam presentes, também criamos o que denominamos nosso “genograma corporal”. Buscando encontrar em cada um desses corpos os traços faciais, expressões faciais, gestos e posturas que se manifestavam em nosso corpo – “entendida como atividade de expressão mímico-posturo-gestual”. (CAMUS, 1986).

Também, estávamos realizando um estágio em Musicoterapia e Psicomotricidade supervisionado pelas Profas. Benedita Borges de Andrade e Juliana Gontijo Aun, no EquipSIS Equipe Sistêmica. Experienciações, essas, que em muito contribuíram para a compreensão de que “…a Psicomotricidade deve ser considerada uma epistemologia que nega validade ao fenômeno psicomotor fora do contexto das relações histórico-sociais” (RENNÓ, 2012). Assim, também, que “Em Coreoterapia, a dança é considerada o movimento da vida… O desenho do gesto no espaço e no tempo durante a sessão de Coreoterapia descreve a trajetória vital da pessoa. Nesse gesto impressionado de um significado mudo, dar-se-á a tradução de um viver que permitirá a renovação de um tema pessoal, cuja ressignificação acre caminho para novas construções” (RENNÓ, 2017).

Desde seus inícios, Profa. Eline vem apresentando a Coreoterapia como uma terapia de estrutura psicoplástica; termo criado por ela como a “tentativa de unir os aspectos corporais aos psíquicos ou psicológicos do ser humano…” (RENNÓ, 2017). E evidencia-se na capacidade do corpo-mente de sintetizar-se através do movimento. Isto se faz, aproximando-o dos conceitos do corpo abordados na Coreoterapia, “a partir das concepções neurológicas (corpo cortical), psicanalíticas (corpo erógeno e fantasmático), psicogenéticas (corpo consciente) e fenomenológicas (corpo próprio ou corpo carne” (RENNÓ, 2017).

Tal atitude nos leva, também, a associá-la a fenômenos como a plasticidade e a noção de neuroplasticidade desenvolvidos desde os anos de 1960 com as teorias de Michael Merzenich e outros, enquanto “a capacidade do cérebro para superar limitações impostas pela herança genética a adaptar-se ao ambiente em contínua mutação. A plasticidade é uma propriedade intrínseca desse órgão, iniciando-se no embrião e perdurando até a morte do indivíduo. Ela ocorre com o fortalecimento, o enfraquecimento, a poda ou o acréscimo das conexões sinápticas, bem como pela promoção da neurogênese” (PASCUAL-LEONE et al. (2005). In MALLOY-DINIZ et al. (2016). E à abordagem fenomenológica da percepção de Maurice Merleau-Ponty (1968) em que: “Não é o sujeito epistemológico que efetua a síntese, é o corpo; quando sai de sua dispersão, se ordena, se dirige por todos os meios para um termo único de seu movimento, e quando, pelo fenômeno da sinergia, uma intenção única se concebe nele”. Autor especialmente abordado pela Profa. Eline; assim, como Henri Wallon.

No Coreoterapia: terapia com dança há toda uma construção teórica do Método Fenomenológico da Coreoterapia; bem como, de seu Enquadre e Indicações cuidadosamente desenvolvidos por Profa. Eline. E ao apresentar a técnica da Coreoterapia, expõe os Estágios dos exercícios propostos: Sensorial, Rítmico e Expressivo. Assim, como expõe as fases da Sessão: do Aquecimento Corporal, do Movimento Corporal, do Relaxamento ou Repouso, e da Conversa de Corpo – indicando aqui cada um de seus Exercícios e as Sessões Padrão propostas.

Ao abordar todo o desenvolvimento da pesquisa e da teoria apresentados por Profa. Eline, admiramos ainda mais seu trabalho e o importante papel da Coreoterapia na construção do corpo-mente. Também, fico grata pela possibilidade de participar deste trabalho, que vem oferecer tantos recursos para o melhor entendimento dos sofrimentos humanos e sua superação.

REFERÊNCIAS

MALLOY-DINIZ, L.F. et al. (Org.). Neuropsicologia: aplicações clínicas. Porto Alegre: ARTMED, 2016.

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da Percepção. Trad. Carlos Alberto de Moura. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

RENNÓ, E.M.F. Coreoterapia: Terapia através da Dança. Belo Horizonte: Interlivros, 1979.

RENNÓ, E.M.F. Coreoterapia: Terapia com Dança – 2.ed. Curitiba: CRV, 2017.

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