Na base das ideologias seculares contemporâneas há uma visão de que caminhamos quase que espontaneamente para o alto. Em direção ao paraíso na Terra, desde que as desmesuras da ganância humana não atrapalharem o plano natural do Universo. Em direção a um futuro de confortos materiais e domínios sobre a Natureza.
Porém os Saberes dos povos milenares e as ciências contemporâneas corroboram a mesma ideia de que o Cosmos e a humanidade seguem um processo material evolutivo crescente? Propondo concepções evolucionistas de progresso ascendente?
Ouçamos, as palavras dos Saberes:
Davi Kopenawa
Alertou o xamã e líder Yanomami ao avaliar a campanha #ForaGarimpoForaCovid. Não mexam mais com a nossa Terra Mãe.
“Qual mensagem a sociedade indígena e a não-indígena devem receber em 2020? Realmente, esse ano foi muito difícil. Mas eu, Davi, já havia falado antes que tudo isso ia acontecer. Não só eu, mas as lideranças indígenas que lutam no Brasil falamos: “Olha, cuida do nosso planeta. O planeta não pode ser destruído”, mas não escutaram.
No subsolo, o homem gosta de ir atrás de minério, de ouro, de diamantes, que são pedras venenosas. Não pode tocar, não pode tirar. Esse 2020 aconteceu assim por erro do homem branco. Quem foi que mexeu [na terra]? Foi o grande empresário que abriu grande buraco embaixo da terra, onde o grande espírito da xawara estava morando. A xawara estava debaixo da terra para não adoecer o planeta.
Eu não queria que isso tivesse acontecido. Esse momento está muito difícil. Não tem ninguém para controlar, não tem remédio para curar. [Como xamã] estou sonhando muito mais. Virão outras doenças mais fortes que vão continuar matando milhares de pessoas no planeta. Essa é a minha mensagem que falo de novo para o homem não-índio, que só pensa nele, mas não pensa no todo, não pensa na Terra Mãe. Que não acredita na fala dos povos indígenas, somente quando fica doente. Ele vai lembrar da minha palavra.
Eu fiquei muito revoltado porque os povos indígenas foram contaminados com essa xawara, com essa wakixi (fumaça), que é uma doença que entra no pulmão e mata.
Povo da cidade: pense e pare. Não mexam mais com a nossa Terra Mãe1”.
Nação Buffalo
“Enfrentamos agora decisões perigosas que resultam de doenças mentais. À medida que caminhamos para 2021, os locais sagrados do povo Gwich’in, que protegem os locais de nascimento dos Árticos Caribus, que consideramos o umbilical da Mãe Terra, estão prestes a ser perfurados. No Coração de Tudo O Que É, as Sagradas Colinas Negras sendo constantemente destruídas. E a grande tristeza do incêndio da Amazônia, deixando as nações indígenas, animais e vegetais de base sem lar e morte. Estas atrocidades e muitos outros ataques perigosos aos Locais Sagrados da Mãe Terra irão certamente afetar-nos a todos.
O Artigo 19 da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas diz: “Os Estados deverão consultar e cooperar de boa-fé com os povos indígenas envolvidos através das suas próprias instituições representativas, a fim de obter o seu consentimento livre, prévio e informado antes de adotar e implementar medidas legislativas ou medidas administrativas que possam afetá-los”. Não podemos dar-nos ao luxo de ignorar decisões tomadas em acordos. Isto também viola os próprios tratados dos Estados Unidos com o nosso povo. O que agora foi permitido que acontecesse é uma violação ao mais alto nível de desrespeito para com os Antepassados de uma Nação, onde até mesmo os Enterros são eliminados para abrir caminho em nome do progresso mortal. Onde estão os Guardiões dos seus valores nestes Acordos que eles próprios criaram?
Os corações de todas as pessoas de fé devem agora unir-se na crença de que podemos mudar o caminho em que estamos agora. Já testemunhamos que muitas Nações da vida estão morrendo por causa da contaminação, e nós, com bom coração e mente, devemos ser responsáveis por aqueles que nadam, aqueles que rastejam, aqueles que voam, a nação planta e os de quatro patas. A única oportunidade que receberam foi uma pandemia mortal. O que todos enfrentamos é um espírito sombrio de doença que surgiu da falta de respeito e de honra à vida.
Todas as coisas vivas não podem mais permitir que os mesmos erros sejam cometidos. Se não nos levantarmos espiritualmente como Líderes individuais e não fizermos o trabalho do Criador ao unir as nossas preocupações, isso continuará a ser um efeito dominó sobre o qual os nossos Antepassados alertaram nas Profecias.
Esta não é uma competição de quem vai liderar e quem deve seguir, este é um momento muito sério em que nos encontramos. Sei no meu coração que há milhões de pessoas que sentem que isto já deveria ter acontecido há muito tempo. É hora de todos nós nos tornarmos Líderes para ajudar a proteger o sagrado na Mãe Terra – ela é a fonte da vida e não um recurso.
Num Arco Sagrado da Vida, onde não há fim nem começo.” (Chefe Arvol Looking Horse. Guardião da 19ª Geração do Sagrado Cachimbo de Búfalo Branco da Grande Nação Sioux Lakota, Dakota e Nakota – 2023)2.
As Profecias da nação indígena Hopi
Os Hopi são uma nação indígena dos Estados Unidos da América que vivem principalmente na Reserva Hopi, no nordeste do estado de Arizona, com 1,5 milhões de acres (6.000 km²), e que está rodeada pela Reserva Navajo. Alguns Hopi vivem na reserva indígena do rio Colorado, no oeste do Arizona.
Os Hopi consideram-se parentes de todas as raças, mas têm uma relação espiritual muito forte com o Tibete. O Dalai Lama visita a reserva com frequência. Diz-se que da primeira vez que ele ali chegou, os velhos Hopi o saudaram: “Bem-vindo ao lar”. Há uma profecia Hopi que diz que o seu povo e os “homens-vestidos-de-vermelho” do outro lado do oceano serão reunidos como irmãos.
Uma profecia tibetana diz que “quando o pássaro-de-ferro voar e os cavalos correrem sobre rodas, o povo do Tibete espalhar-se-á pelo mundo e a sabedoria de Buda chegará aos “peles-vermelhas” do outro lado do oceano.”
Segundo as tradições dos índios Hopi, a história da humanidade está dividida em períodos a que chamam “Mundos”. São ao todo Sete Mundos; agora estamos no Quarto.
Parece que as transições entre um e outro Mundo estão rodeadas de catástrofes espantosas, em que somente se salvam uns poucos “eleitos” que serão a semente do Mundo seguinte. O germe de uma nova humanidade.
Os anciões revelam que haverá nove “Sinais”, antes de surgir o quinto Mundo.
Este Quinto novo Mundo (coincidente com a ideia hindu encontrada nos Vedas)
será um Mundo de paz e de abundância – uma Nova Terra. De acordo com Pena Branca, um sábio ancião Hopi do antigo Clã dos Ursos, a profecia se realizará desta forma:
O Quarto Mundo terminará em breve e o Quinto Mundo, então, começará. Os anciões sabem disto. Os Sinais no decorrer dos anos foram se realizando e, assim, são poucos os que restam:
Este é o Primeiro Sinal: Foi-nos dito da vinda dos homens de pele branca, como Pahana, nosso perdido Irmão Branco (esta lenda da volta do Pahana parece estar intimamente relacionada com os Astecas e a história de Quetzalcoatl; assim, como outras lendas da América Central). Ele plantará as sementes da sabedoria nos corações das pessoas. Até mesmo agora as sementes estão a ser plantadas. Isto abrirá o caminho para o aparecimento do Quinto Mundo.
Mas estes homens não viverão como Pahana, eles serão homens que tomarão a terra que não é deles e os homens que atacarão os seus inimigos com o trovão (armas de fogo).
Este é o Segundo Sinal: As nossas terras verão a vinda das rodas cheias de vozes. Na sua juventude, meu pai viu esta profecia realizar-se com os seus olhos
– os homens brancos que trouxeram as suas famílias em vagões (os carroções dos colonos) pelas pradarias.
Este é o Terceiro Sinal: Uma estranha besta como um búfalo com grandes e longos chifres assolará a Terra em grande número. Estes Penas Brancas viram com os seus próprios olhos – a vinda do gado de longos chifres (raça Longhorn) dos homens brancos.
Este é o Quarto Sinal: A Terra será atravessada por cobras de aço – os “caminhos de ferro” (as estradas de ferro e os trens).
Este é o Quinto Sinal: A Terra será atravessada por uma rede gigante de fios de aranhas – a energia elétrica, as linhas primeiro dos telégrafos e agora pelas linhas telefônicas.
Este é o Sexto Sinal: A Terra será atravessada por rios de pedra que fazem imagens – autoestradas com miragens no asfalto causadas pelo calor do Sol.
Este é o Sétimo Sinal: Vocês verão o mar se transformar em negro e muitas coisas vivas morrerão por causa disto – derramamento de petróleo nos oceanos.
Este é o Oitavo Sinal: Vocês verão muitos jovens da raça branca que usam cabelos longos como a nossa gente. Eles virão e se juntarão às nações tribais, para aprenderem novos modos e sabedoria – os hippies nos anos 60 e 70.
E este é o Nono e Último Sinal: Vocês ouvirão uma residência nos Céus, acima da Terra, que cairá com um grande estrondo. Aparecerá como uma Estrela Azul. Logo depois disto, as cerimônias do meu povo cessarão”.
O Ancião Pena Branca continua:
“Estes são os sinais que mostram que a grande destruição está a se aproximar. O mundo balançará para lá e para cá. O homem branco lutará contra outras pessoas em outras terras, com aqueles que possuem a primeira luz da Sabedoria. Como Pena Branca viu o homem fazer nos desertos, haverá muitas colunas de fumo e fogo não muito longe daqui. Somente os que vir causarão doença e um grande número morrerá. Muitos do meu povo entendem as profecias e estarão seguros. Esses que ficarão e morarão nos lugares onde mora o meu povo, estarão seguros”. (Rudolf Kaiser, 1991)3, 4.
A visão cíclica e descendente do ciclo humano e cósmico aparece formulada de modo detalhado na tradição hindu. Nas Leis da divindade Manu, que divide o ciclo em Quatro Fases ou Yugas, temos: Satya Yuga, Idade da Verdade, do acesso direto à transcendência; Treta Yuga, Idade das Ciências, do caminho indireto à espiritualidade; Dwâpara Yuga, Idade em que se torna necessário rituais no acesso à transcendência; e por último Kali Yuga, Idade Sombria, da rápida decadência e fins do ciclo – aquela em que estamos desde há mais de seis mil anos, e agora em sua última etapa. As Quatro Fases corresponderiam às idades do Ouro, da Prata, do Bronze e do Ferro.
Os budistas tibetanos ainda distinguem uma Quinta Fase cíclica no Kali Yuga, “idade em que a corrupção vai de mal a pior (Tsong-Khapa, fundador da ordem de Dalai Lama)”. (Marco Pallis, 1977) 5.
Enquanto a Justiça e a Verdade reinam no Satya Yuga, nas fases subsequentes o avanço da “desespiritualização” se acelera; na medida em que a duração temporal de cada fase diminui na proporção de 4:3:2:1. A despeito do avanço tecnológico, o ciclo caminha para baixo.
A referência “baixo” tem múltiplas significações: baixa duração temporal; materialização; apego aos prazeres sensoriais (hedonismo) como propósito de “vida feliz e realizada”; maior dificuldade de acesso mental às verdades transcendentes; racionalismo; desenfreamento da ignorância sobre a natureza impermanente da realidade existencial e desejo de apossar das coisas materiais (consumismo); crises climáticas, elevação da temperatura do planeta e destruição da Natureza; violências sobre os povos originários; exteriorização (predomínio da realidade exterior na mente humana); corrupção; entre outras.
Se por um lado a tendência cósmica e humana é descendente e materializante, por outro a função de uma Tradição Espiritual é oferecer os suportes de apoio para a tendência oposta: a saída dos ciclos existenciais (samsara) e a realização espiritual. Essas tendências não são sucessivas, são simultâneas. Embora haja períodos de crise e ruptura, com o desaparecimento de certas tradições e a emergência de novas tradições revivificantes – nesta visão global se situariam a emergência de tradições como o Cristianismo, o Budismo, o Islamismo e outras.
Nisto residiria as concepções teístas sobre as chamadas “descidas divinas” dos Avataras; que na tradição hindu são as sucessivas encarnações de Vishnu, a face da conservação divina. No livro do Bhagavad-Gita, assim se refere Krishna, considerado a oitava encarnação de Vishnu: “Sempre que o dharma [a Lei, Verdade, a retitude, entre outras acepções] declina, ó filho da dinastia dos Bharata, e há um aumento do adharma [o vício, a destruição da verdade], então Eu me manifesto” (BG Sloka 7–4).
Segundo os hindus, a próxima encarnação de Vishnu será como Kalki-Avatara, que desta vez virá para encerrar com fogo este ciclo da Humanidade. Esta noção do fecho deste ciclo em fogo também aparece no Velho Testamento: “Porque, eis que o Senhor virá em fogo; e os seus carros como um torvelinho; para tornar a sua ira em furor e a sua repreensão em chamas de fogo” (Isaías, 66, 15).
Buddha também se refere, no Samyutta Nikaya6, ao processo que leva ao desaparecimento dos seus ensinamentos: “Outrora, ó monges, os Dasaraharas possuíam um tambor chamado o Convocador. Como começava a rachar, os Dasaraharas nele cravavam sempre novas cavilhas: chegou o momento em que o tambor original do Convocador tinha desaparecido: só restava uma armadura de cavilhas. É assim, ó monges, que sucederá aos monges no futuro.
Estes discursos pronunciados pelo Descobridor da Verdade, profundos, profundos de significação falando de um outro mundo, tratando do vácuo: eles não escutarão mais tais como são pronunciados, não prestarão atenção, não voltarão seus pensamentos para o profundo saber, e não sustentarão que esses são ensinamentos dignos de ser estudados e possuídos.
Mas os discursos, ó monges, que são feitos pelos poetas, que pertencem à poesia, que são uma pluralidade de palavras de expressões, que são estranhos (isto é, exteriores ao ensinamento do Buda), que são as palavras dos discípulos: eis o que eles ouvirão tais como são pronunciados, e sustentarão que esses são ensinamentos dignos de ser estudados e possuídos. É por esta razão que os discursos pronunciados pelo Descobridor da Verdade, profundos, de significação, falando de um outro mundo, tratando da vacuidade, acabarão por desaparecer”.
Nos tempos atuais, diversos alertas vêm sendo feitos pelos sábios indígenas e pelos cientistas sobre os efeitos das alarmantes crises ecológicas e climáticas, e as ameaças à sustentabilidade da vida do planeta causadas pela destruição da Natureza. Aproximando-se do perigoso “ponto de não retorno”.
A terra está ficando quente muito mais rápido do que pensávamos
“Sabemos que o planeta está ficando mais quente, mas acontece que isso está acontecendo muito mais rápido do que imaginávamos. Nossos cientistas subestimaram o aquecimento global devido a relatos de temperatura imprecisos feitos nos oceanos do sul.
Segundo a revista científica New Scientist, uma equipe do Lawrence Livermore National Laboratory na Califórnia (EUA) comparou medições diretas dos mares com dados de satélites e modelos climáticos. Os dados sugerem que os oceanos do hemisfério sul absorveram mais do que o dobro do calor preso na nossa atmosfera do que o anteriormente calculado.
De fato, os resultados sugerem que atualmente os oceanos do mundo estão absorvendo algo entre 24% e 58% mais energia do que pensávamos. Isso significa que possivelmente subestimamos como nosso mundo está esquentando – já que os oceanos do sul estão trabalhando duro para dar conta do recado. Os resultados foram publicados na Nature Climate Change”. (Amie Condliffe, 2014)7
Nível do mar registrou aumento sem precedentes nos últimos 100 anos
O nível do mar aumentou 20 centímetros nos últimos 100 anos, um fenômeno sem precedentes em milênios, mostra estudo divulgado hoje (14/10/2014) na Austrália.
A pesquisa publicada no Proceedings of the National Academy of Sciences of United States of America (PNAS) analisa as flutuações do nível do mar nos últimos 35 mil anos com base nas mudanças no volume de gelo na terra. “Nos últimos 6 mil anos, antes de começar a aumentar o nível da água, o nível do mar foi bastante”, disse um dos coautores do estudo, Kurt Lambeck, pesquisador da Universidade Nacional Australiana.
Lambeck explicou que, durante esses milênios, não foram encontradas provas de oscilações de 25 a 30 centímetros em períodos de 100 anos; mas que essa tendência mudou a partir do processo de industrialização, com um aumento que classificou como incomum.
“Nos últimos 150 anos, assistimos a um aumento do nível da água à velocidade de vários milímetros por ano e nos nossos registos mais antigos não verificamos um comportamento”, disse o cientista, vinculando esse fenômeno ao aumento da temperatura do planeta.
A investigação concluiu ainda que, mesmo assim, as flutuações naturais do nível do mar nos últimos 6 mil anos foram menores do que sugeriam estudos anteriores.
“Esse ponto foi bastante polêmico porque muita gente assegurava que o nível do mar tinha oscilado em grandes quantidades, vários metros em centenas de anos, e não encontramos provas que o demonstrem”, acrescentou Lambeck.
O estudo aborda também a complexa relação entre o degelo e o aumento do nível dos oceanos, no qual intervêm fatores como a gravidade, que provoca aumento no nível do mar em algumas áreas e queda em outras. (Agência Brasil–EBC, 2014)8.
A pandemia nossa de cada dia. No calor da tumba de Pandora
“Dificilmente Tutankamon, rei do Egito, que morreu aos 19 anos em 1324 a.C. foi tão famoso na sua época como foi no século XX. Sua tumba foi descoberta intacta em 1923 contra todas as possibilidades, uma vez que o Vale do Reis, a necrópole onde os faraós eram enterrados perto de Tebas, no Egito, tinha sido saqueada por bandos de ladrões desde que a primeira múmia de faraó foi depositada por lá.
A história da descoberta gerou inúmeras especulações e consolidou a lenda da maldição do faraó. Essa maldição diz que quem viola o lugar onde está a múmia e a própria tumba do faraó, é amaldiçoado e encontrará a morte rapidamente. Dizem que nas paredes dessas câmaras haveria inscrições que comprovariam essa maldição. Outros alegam, porém, que a lenda da maldição é uma tentativa malsucedida de afastar os ladrões dos tesouros enterrados com os faraós.
Howard Carter era um arqueólogo inglês com grande experiência no Egito, que não temia a maldição e nem acreditava não haver mais tesouros a serem descobertos no Vale dos Reis. Ele começou a pesquisar a área em 1916, com o apoio financeiro de Lorde George Carnavon. Anos depois, sem que nada de relevante fosse encontrado, o financiamento de Lorde Carnavon ao trabalho de Carter parecia ter encerrado. Conta a lenda, não a da maldição e sim a da descoberta da tumba de Tutankamon, que Carter pediu ao seu benfeitor mais uma última temporada de escavações. Assinalando que tinha identificado indícios de que seria possível encontrar uma tumba inviolada.
Com essa esperança, Carter e sua equipe se lançaram ao trabalho e acabaram encontrando uma passagem que parecia obstruída e ser uma câmara mortuária. Na sequência, as escavações levaram a uma antessala cheia de tesouros, e à câmara mortuária do faraó Tutankamon. A antessala cheia foi aberta com a presença de Lorde Carnavon; e posteriormente em fevereiro de 1923, a câmara mortuária foi aberta em um evento com diversas pessoas, inclusive autoridades egípcias.
A partir deste momento, as lendas sobre a maldição do faraó multiplicarem-se. Lorde Carnavon foi o primeiro a morrer em abril de 1923. Dizem que mais de 22 pessoas que estiveram no evento de abertura da tumba morreram nos seis anos seguintes. Enquanto a morte de Lorde Carnavon parece ter relação com uma ferida infectada, os outros teriam morrido por causas diversas; inclusive infectados por fungos presentes nas paredes da tumba. Outros visitantes da câmara mortuária também faleceram contaminados por esses fungos; fortalecendo a ideia da maldição. (Nurit Bensusan, 2020)9
Microrganismos confinados
Talvez a maldição do faraó seja mesmo uma lenda. Mas a possibilidade de microrganismos infectarem pessoas ao sair desse ambiente pode não ser um mito. A tumba de Tutankamon passou mais de 3 mil anos fechada, e ninguém sabe que microrganismos conviveram com a múmia do jovem faraó nesses milênios. Três mil anos parece muito tempo, imagine 300 séculos…
Foi o que ocorreu em 2014, quando pesquisadores franceses isolaram um vírus de 30 mil anos congelado no chamado permafrost – camada da crosta terrestre situada no hemisfério norte que está permanentemente congelada – e o aqueceram no laboratório. O resultado, surpreendente e assustador, foi que o vírus ficou ativo imediatamente.
Devido às mudanças climáticas, o derretimento do permafrost pode dar uma escala planetária e aterrorizante à maldição do faraó. Não se tratando de perturbar o sono eterno do rei do Egito, nem de saquear tumbas. Mas sim, de perturbar de forma irreversível os processos que fazem desse planeta um lugar convidativo para nossa espécie; saqueando irremediavelmente o futuro.
Devido ao pemafrost guardar sedimentos de outras eras – esqueletos de espécies já extintas como os mamutes; uma enorme quantidade de carbono e mercúrio; e microrganismos causadores de doenças antigas ¬–, se nenhuma medida for tomada até 2100, estima-se que 70% de todo o permafrost estará descongelado. Nesse cenário, novas ameaças surgem. (The European Space Agency – ESA, 2020)10
Consequências do descongelamento do permafrost
Nas últimas décadas, as pesquisas revelaram grandes quantidades de fósseis de mamutes e de outros herbívoros, indicando que a Sibéria, o Alasca e o oeste do Canadá teriam sido pradarias férteis em épocas do período Pleistoceno, entre 110 mil e 10 mil anos antes do presente.
Com o esfriamento da região em função das glaciações do final do Pleistoceno, a decomposição dos organismos foi retardada e seus restos mortais acabaram aprisionados no permafrost. Essas conclusões mostraram que há muito mais carbono no permafrost do que se imaginava antes.
Atualmente, os pesquisadores acreditam que o permafrost contenha 1.500 bilhões de toneladas de carbono que seriam liberadas na atmosfera, no momento que o solo descongelasse, e que a matéria orgânica ali depositada fosse degradada. Estimativas apontam para uma inserção de cerca de 150 bilhões de toneladas até 2100. Ou seja, a primeira consequência direta do processo de descongelamento do permafrost é que seu fim vai chegar mais rápido. Com a inserção de mais carbono na atmosfera, o planeta tende a esquentar mais e o permafrost a derreter mais rápido. Essa fonte de aquecimento global, porém, não tem sido considerada nas projeções do clima. Somente recentemente o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC)11 passou a incorporar as projeções de descongelamento do permafrost.
As consequências desse descongelamento têm relação com um vasto conjunto de preocupações que a pandemia nossa de cada dia trouxe para nosso cotidiano. Sabemos que a pandemia do coronavírus não é um acaso e, sim, resultado das formas com que lidamos com a natureza. Um dos fenômenos que pode promover mais zoonoses – doenças infecciosas transmitidas entre os animais e pessoas – é o encontro de animais que normalmente não se encontram em seus ambientes naturais. Quando eles se reúnem, seu conjunto de microrganismos contado aos milhões, também se encontra e as possibilidades de troca e de recombinação aumentam. Assim, vírus, bactérias ou outros agentes não convencionais que infectavam uma espécie, saltam para outras; identificando novos hospedeiros; e antecipando o surgimento de novas doenças. A questão é que a crise climática acelera esse processo, pois os animais se deslocam procurando climas aos quais estão melhor adaptados, acabando por promover os encontros.
A migração dos animais do permafrost já pode ser vista. No Alasca, por exemplo, as lebres-americanas habitam agora todo a região até o oceano Ártico. Esses animais antes se restringiam às florestas; mas com a mudança drástica da paisagem em função do degelo iniciaram a colonização de áreas que estão a centenas de quilômetros das florestas. Seus predadores, os linces, também têm sido encontrados cada vez mais ao norte, como também os alces. Um exemplo emblemático que vem deixando marcas na paisagem, é a migração dos castores. Estima-se que esses animais estejam se movendo para o norte do Alasca a um ritmo de oito quilômetros por ano.
A volta de velhas doenças
“Mas isso pode ser pouco, se comparado aos microrganismos responsáveis por doenças antigas que podem reemergir. Doenças que consideramos varridas do mapa, como a varíola; doenças raras atualmente, como o antraz; e doenças que sequer conhecemos. Porém, surtos de antraz têm acontecido entre as renas da Sibéria. Como visto pela última vez na região em 1941 e denominada “praga da Sibéria”; depois que um menino e 2,5 mil renas morreram. Os pesquisadores acreditam que um novo surto da doença que se deu em 2016, foi devido ao descongelamento de uma rena contaminada 75 anos antes.
Na década de 1890, houve uma grande epidemia de varíola na Sibéria e em algumas regiões cerca de 40% da população morreu. Os corpos foram enterrados sob o permafrost nas margens do rio Kolyma. Atualmente, com o derretimento do permafrost que acelera a erosão das margens do rio, os corpos podem ficar expostos e o vírus da varíola voltar a se manifestar.
Em 2005, pesquisadores da Nasa ressuscitaram bactérias que estavam congeladas há 32 mil anos em um lago no Alasca, e dois anos depois conseguiram trazer de volta à vida bactérias que estavam congeladas há 100 mil anos na Antártica. Ou seja, bactérias que conviveram com muitas outras espécies de animais e que teoricamente podem causar doenças desconhecidas. Pesquisando amostras de gelo de 15 mil anos em uma geleira no Tibete, pesquisadores chineses e norte-americanos encontraram 33 tipos de vírus, dos quais 28 são desconhecidos da ciência. Esses microrganismos podem se combinar com outros que estão presentes entre nós hoje e, na prática, causar muitas novas doenças.
Mas não são apenas os microrganismos que podem ressuscitar com o descongelamento do permafrost. Os vermes também podem. Nematóides de 41 mil anos, coletados por pesquisadores russos nas margens do Rio Kolyma, voltaram a vida assim que colocados a uma temperatura de cerca de 20 graus centígrados.
O permafrost abarca cerca de 23 milhões de quilômetros quadrados no hemisfério norte. É uma área imensa que está congelada há milhares de anos. O que seu descongelamento pode trazer é uma combinação da maldição do faraó com a abertura da caixa de gelo de Pandora, mas agora não como lenda ou mito”. (Nurit Bensusan, 2020)12
Fim da vida: Cientistas estimam quando a próxima extinção em massa deve ocorrer na Terra
“Na semana passada cientistas criaram um conceito de um dispositivo que poderia avisar sobre o fim do mundo e, embora fosse apenas uma brincadeira, uma equipe está divulgando hoje um estudo que indica quando a extinção da vida na Terra pode ocorrer novamente. O artigo foi publicado na Biogeosciences e, dessa vez, não é uma piada científica.
O estudo nomeado como “A relação entre a magnitude de extinção e a mudança climática durante grandes crises entre animais marinhos e terrestres” (Kunio Kaiho, 2022)13, foi coordenado por diversos cientistas de várias regiões do mundo tendo como base as outras 5 extinções que já ocorreram na Terra.
Kunio Kaiho, autor do estudo e especialista em clima na Universidade de Tohoku (JPN), afirma que há uma relação linear entre a biodiversidade do planeta e a temperatura da superfície terrestre, onde grandes desvios podem causar a extinção em massa de diversas espécies.
Para se ter uma ideia, um desvio negativo de 7º C ou positivo de 9º C já é suficiente para desencadear grandes extinções. Pois muitos animais, plantas e até mesmo nós, humanos, somos muito sensíveis a alterações bruscas de temperatura como estas. Basta se lembrar de eventos climáticos extremos ocorridos recentemente na Europa, desencadeando mais de mil mortes e incêndios florestais.
Falando na data, o estudo estima que a extinção da vida na terra deve ocorrer por volta do ano 2.500, e desencadeada por um aumento de 5,2ºC na temperatura terrestre. Embora Kaiho estime que a elevação possa ser muito maior: de 9º C.
O cientista afirma ainda que já existem evidências de que a biodiversidade do planeta já está em declínio, onde muitas espécies de animais e plantas já se encontram em extinção. Dessa forma, a vida na Terra não deve ser extinta de forma abrupta como o asteroide que dizimou os dinossauros há 66 milhões de anos, mas, sim, de forma gradual.
Assim, é preciso investir cada vez mais em fontes de energias com menor ou zero emissão de poluentes, reduzir a produção de lixo e motivar a reciclagem; bem como, parar o desmatamento e incentivar o reflorestamento, pois florestas como a Amazônia ajudam a restaurar o equilíbrio climático de todo o planeta e não apenas de uma região”.
Geleiras estão desaparecendo em ritmo recorde nos Alpes, após ondas de calor na Europa
Temperaturas na região sobem cerca de 0,3ºC por década. Se as emissões de gases do efeito estufa continuarem a crescer, as geleiras dos Alpes devem perder mais de 80% da sua massa atual até 2100.
As geleiras dos Alpes caminham para sofrer a maior perda de massa em pelo menos 60 anos de registros, segundo dados compartilhados exclusivamente com a Reuters.
A maioria das geleiras do mundo — remanescentes da última era glacial — estão recuando devido às mudanças climáticas. Mas as dos Alpes europeus estão especialmente vulneráveis, porque são menores e têm uma cobertura de gelo relativamente pequena.
Muitas desaparecerão independentemente de quais ações forem tomadas contra as emissões neste momento, graças ao aquecimento global gerado pelas emissões passadas, segundo um relatório de 2019 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU)”. (Emma Farge, Gloria Dickie & Michael Shields, 2022)14
Maior manto de gelo do mundo está desaparecendo mais rápido do que se pensava, diz Nasa.
“Análise mostrou que o desbaste e o desprendimento reduziram a massa das plataformas de gelo da Antártida em 12 trilhões de toneladas desde 1997, o dobro da estimativa anterior.
As geleiras costeiras da Antártida estão soltando icebergs mais rapidamente do que a natureza pode repor o gelo em ruínas, dobrando as estimativas anteriores de perdas da maior camada de gelo do mundo nos últimos 25 anos, mostrou uma análise de satélite na quarta-feira (10).
O primeiro estudo do tipo, liderado por pesquisadores do Jet Propulsion Laboratory (JPL), da Nasa, perto de Los Angeles (EUA) e publicado na revista Nature, levanta uma nova preocupação sobre a rapidez com que as mudanças climáticas estão enfraquecendo as plataformas de gelo flutuantes da Antártida e acelerando o aumento de níveis globais do mar”. (CNN Brasil, 2022)15
Conclusão
Com base no que foi apontado pelas várias fontes, o processo de degeneração e decadência de todos os fenômenos do mundo condicionado – incluindo os ciclos de humanidade, bem como do Cosmo, seguem a mesma lei da causa e efeito das ações e suas consequências.
E já estamos experienciando os desastres e as tragédias em várias partes do planeta. Há aquelas inevitáveis, e aquelas que podiam e podem ser evitadas por meio de providências corretas.
Os dois extremos do caminho devem ser evitados: de um lado, a ignorância sobre as leis da causa e efeito, que alimenta a delusão e as ações inábeis; de outro, o conformismo/pessimismo diante da inevitabilidade dos processos de degeneração e decadência.
Pelo Caminho do Meio, a hora é Agora:
Fazer o que é possível pelo bem de todos os seres, com atenção e sabedoria, urgência, compaixão e tranquilidade. Reconstruindo, recomeçando, cuidando do meio ambiente.
E com o conhecimento e prática dos caminhos espirituais legítimos, alcançar a Realidade Suprema, Incondicionada e Imortal.
Ref. Bibliográficas
1 Manchetes Socioambiental, 17/12/2020 | Ano 20 – São Paulo: Instituto Sócioambiental – (ISA). manchetes@socioambiental.org
2 Chief Arvol Looking Horse Speaks of White Buffalo Prophecy (2023). Plataforma Knewways to Evolve. https://www.worldhistory.org/video/3028/chief-arvol-looking-horse-speaks-of-white-buffalo/
3 KAISER, R. (1991). The Voice of the Great Spirit: Prophecies of the Hopi Indians. Boston & London: Shambala.
4 Profecias dos Indígenas Hopi (O retorno da Estrela Azul). Thoth 3126 (2023). https://thoth3126.com.br/profecias-dos-indigenas-hopi-o-retorno-da-estrela-azul/
5 In: GUÉNON, R. (1977), A Crise do Mundo Moderno. Lisboa: Viega, nota 1, p. 28.
São Francisco: Internet Archive. https://archive.org/details/ACriseDoMundoModerno/page/n5/mode/2up
6 COOMARASWAMY, A.K. (1967). Samyutta Nikaya II, 266-67. In. O Pensamento Vivo do Buda. São Paulo: Martins, 1967, p.65.
7 CONDILIFFE, J. (2014). A Terra está ficando muito mais rápido do que pensávamos. Giz Br. https://gizmodo.uol.com.br/a-terra-esta-ficando-quente-muito-mais-rapido-do-que-pensavamos/
8 Agência Brasil (2014). Nível do mar registrou aumento sem precedentes nos últimos 100 anos. Sidney (AUS): Da Agência Lusa. https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2014-10/nivel-do-mar-registrou-aumento-sem-precedentes-nos-ultimos-100-anos
9 BENSUSAN, N. (2020). A pandemia nossa de cada dia: No calor da tumba de Pandora. São Paulo: Instituto Socioambiental (ISA). https://site-antigo.socioambiental.org/pt-br/blog/blog-do-isa/no-calor-da-tumba-de-pandora
10 Mudança do Clima 2023: Relatório Síntese. Geneve (SUI): Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) & World Meteorological Organization (WHO). https://www.ipcc.ch/report/ar6/syr/downloads/report/IPCC_AR6_SYR_LongerReport_PO.pdf
11 Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, 2018). Aquecimento Global de 1,5oC. Brasília (BRA): Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2019/07/SPM-Portuguese-version.pdf
12 BENSUSAN, N. A pandemia nossa de cada dia. No calor da tumba de Pandora. São Paulo: Instituto Socioambiental. https://site-antigo.socioambiental.org/pt-br/blog/blog-do-isa/no-calor-da-tumba-de-pandora
13 KAIHO, K. (2022). A relação entre a magnitude de extinção e a mudança climática durante grandes crises entre animais marinhos e terrestres. Biogeosciences (BG), 19, 3369-3380. https://bg.copernicus.org/articles/19/3369/2022/bg-19-3369-2022.pdf
14 FARGE, E., DICKIE, G. & SHIELDS. S. (2022). Geleiras estão desaparecendo em ritmo recorde nos Alpes, após ondas de calor na Europa. Novus Mídia: CNN Brasil. https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/geleiras-estao-desaparecendo-em-ritmo-recorde-nos-alpes-apos-ondas-de-calor-na-europa/
15 REUTERS (2022). Maior manto de gelo do mundo está desaparecendo mais rápido do que se pensava, diz NASA. Novus Mídia: CNN BRASIL. https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/maior-manto-de-gelo-do-mundo-esta-desaparecendo-mais-rapido-do-que-se-pensava-diz-nasa/